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A ERA DOS ROBÔS? A SOCIEDADE DIGITAL E O AVANÇO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

04/11/2020 Voltar

Articulista: Bernardo Rocha da Motta Pereira

O avanço tecnológico e suas consequências habitam o imaginário da sociedade, o emblemático filme Blade Runner retrata um futuro distópico (não mais futuro, o filme lançado em 1982 retrata um mundo de 2019!) em que a humanidade enfrenta a insurgência da inteligência artificial criada para realizar atividades nocivas.

 

A arte em geral tentou antever de diversas formas aonde chegaríamos com os avanços tecnológicos e os impactos que ocasionariam, podemos citar o filme A.I. de Steven Spielberg que retrata principalmente a questão familiar e afetiva envolvendo robôs, Minority Report que retrata um sistema tecnológico de previsão de crimes, dentre outros filmes, livros, artes plásticas e inclusive vídeo games. A indagação de que "a vida imita a arte ou a arte imita a vida" nunca poderia fazer mais sentido do que quando falamos de inteligência artificial.

 

Inicialmente precisamos entender a diferença entre robôs e inteligência artificial, robôs são dispositivos, ou um conjunto deles, que são programados para realizar uma tarefa, robôs podem conter tecnologia de inteligência artificial ou não, no último caso quando são programados para realizar tarefas mecânicas mais simples, podemos exemplificar a utilização de nano robôs para administração de remédios no organismo, que não utiliza inteligência artificial para executar o que foi programado.

 

A inteligência artificial por sua vez pode ser definida como uma inteligência computacional que é programada através de algoritmos para ponderar, agir, raciocinar, aprender e se adaptar, tendo como base a própria experiência humana.

 

Pode-se distinguir IA em três formas diferentes, baseadas em sua autonomia de aprendizado, sendo elas Expert Systems, Machine Learning e Deep Learning. Expert Systems seriam algoritmos alimentados de forma detalhada pelo homem para que resolva problemas, não possui capacidade de aprendizado além das informações alimentadas. Machine Learning (ML) seria uma forma mais avançada de IA, possui menor dependência em alimentação de dados humanos e confia mais na habilidade do seu algoritmo em utilizar métodos estatísticos e aprender com os dados de forma progressiva. Por fim Deep Learning (DL) seria uma forma avançada de ML que se utiliza de redes neurais artificiais que são estruturadas para funcionar como o cérebro humano.

 

Atualmente o modelo de aprendizado mais utilizado é o de Machine Learning, em que a inteligência artificial ainda precisa contar com a alimentação de algoritmos para aprender e se adaptar.

 

A utilização de inteligência artificial já é aplicada em diversos segmentos da sociedade, muita das vezes sem até que o usuário saiba disso. Seguradoras usam inteligência artificial para precificar seguros de vida, bancos utilizam para análise de linhas de crédito e pontos do cadastrado, redes sociais utilizam inteligência artificial para mapear o comportamento dos usuários e campanhas políticas que rastreiam assuntos que mais aproximam o candidato dos seus eleitores.

 

Por mais que as previsões de Blade Runner possam parecer distópicas no seu pano de fundo, habitado por carros voadores, robôs completamente autônomos e uma total decadência moral e material, o conflito entre os limites da inteligência artificial e a sociedade existe e se desdobra na mesma proporção que essas tecnologias avançam.

 

As seguradoras, por exemplo, ao alimentar a inteligência artificial utilizada com algoritmos sobre padrões comportamentais do consumidor, induziram a máquina a ter conclusões discriminatórias, cobrando valores distintos dos seguros entre homens e mulheres, ou entre pessoas brancas e negras.

 

O usuário de redes sociais, a cada postagem, curtida, a cada compartilhamento de conteúdo, está retroalimentando algoritmos da inteligência artificial que a dia após dia conhece mais o seu padrão comportamental, criando um jogo injusto de manipulação mental e controle de conteúdo engajado.

 

A inteligência artificial vem sendo aplicada inclusive em tecidos mais profundos e complexos da sociedade, quando é utilizada como suporte de campanha política de candidatos. Plataformas ficam responsáveis por minerar dados pessoais de potenciais eleitores de determinada região, os dados coletados servirão convertidos em algoritmos para instruir a inteligência artificial, que por sua vez aprenderá com esses dados melhores táticas e campanhas a serem utilizadas para captar votos de eleitores sugestionáveis.

 

Todo cenário desenhado no presente artigo parece assustador, aparentemente o uso de tecnologias disruptivas para propósitos errados pode ocasionar em danos irreparáveis para a sociedade, a autonomia da inteligência artificial que aprende e se torna autônoma a partir dos dados transferidos para seu sistema é sem limites, mas enquanto as máquinas não conseguem se desligar da tomada e continuar atuando, a sociedade precisa se antecipar para regular sua atividade.